quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Metade - Oswaldo Monte Negro


Que a força do medo que tenho
N
ão me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
N
ão me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
N
ão sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a
única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tens
ão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulc
ão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu n
ão sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o esp
írito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela n
ão saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canç
ão.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

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