quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A hora do cansaço - Carlos Drummond


As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
s
ão eternas até certo ponto.
Duram o infinito vari
ável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itiner
ário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restitu
ímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei l
á, talvez no ar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário